Começo pelo fim.
Há uns anos, o administrador-delegado para quem eu reportava, mostrava, publicamente forte apoio a um colega meu.
Sentindo eu, que havia uma sintonia perfeita sobre todos os assuntos entre mim e o referido Administrador, e sabendo também, que havia entre nós, forte empatia e amizade, achava que era uma injustiça enorme que a preferência escondida não fosse tornada pública.
Compreendi mais tarde a utilidade dessa atitude. Enquanto eu era dado mais à reflexão teórica -assim como o administrador - o meu colega era sobretudo um homem de acção, pragmático, que levava tudo à frente. Deixei-me de ciumes idiotas e entrei no jogo. As minhas ideias e as do administrador, podiam ser muito boas, mas se ficassem dentro do gabinete da administração, valiam zero! Nós "os dois" precisávamos de alguém que as implementasse, que fosse persistente, que lutasse pela concretização, que perseguisse os objectivos sem perder muito tempo a questionar permanentemente o caminho.
Esse administrador, por quem continuo a sentir amizade e admiração, ensinou-me um provérbio chinês: "só um grande homem pode ter em simultâneo a cabeça nas núvens e os pés na terra".
Definitivamente, nenhum de nós era um grande homem: se eu e o administrador tinhamos a cabeça nas núvens, alguém teria que nos completar com os pés na terra.
Sócrates não é um grande homem.
E na falta de um grande homem, prefiro que à frente do governo esteja alguém com os pés na terra, um lutador, um concretizador, do que um intelectual dado à reflexão teórica, com a cabeça nas núvens.
É frequente, embora lamentável, que os intelectuais desprezem os concretizadores (Pacheco Pereira e Vasco Polido Valente odeiam Sócrates).
Julgarão eles, os da cabeça nas núvens, que nós os vamos considerar "grandes homens"?
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