sexta-feira, agosto 07, 2009

Votar em branco é desertar

Conheço pessoas isentas, cultas, inteligentes que estão cansadas dos partidos políticos. E, ou não votam, ou votam em branco.
Têm boas razões para isso: muitos dos militantes partidários que se apresentam como candidatos a cargos públicos fazem-no por interesse pessoal, às vezes apenas ansiando protagonismo, outras estratégicamente posicionando-se para posteriores voos mais altos. Muitos são culturalmente fraquinhos, profissionalmente ninguém vislumbrou o que andaram a fazer antes de aparecerem. Foram criados nas "jotas" - fazem-me lembrar os nonameboys ou a juveleo - e a razão da sua existência é dizer sempre mal do "outro".
Os aparelhos partidários são assim. Ponto final.
Mas não adianta sonhar que é possível virar isto do avesso. Numa re-leitura de "Os Maias" encantei-me com um dos personagens que diz: "o que há a fazer, é meter o Rei, os ministros e os deputados num navio, mandá-los para o Brasil e arranjar espaço para que as pessoas honradas e sabedoras tomem conta da nação!"
Vários anos depois, o Rei já se foi embora, os Ministros e Deputados já mudaram muitas vezes e o estado da Nação ainda é lastimável e há quem continue a ansiar por uma purga milagrosa: meter o Primeiro Ministo, os Ministros e os Deputados num navio e mandá-los todos para o Brasil, dando espaço a um D. Sebastião que nos há-de conduzir à grandeza que merecemos.
Porque "Votar em branco", ou "Não votar" é isto que significa: "Os senhores saiam que não gostamos de nenhum!"
Que fazem para arranjar outros? (Certo! É mais cómodo dizer que não gosto de nenhum destes...)
Que fazem para moralizar os partidos existentes? (Certo! Inscrever-me num partido, ir à luta lá dentro, moralizando, expurgando os oportunistas dá um trabalho do caraças!)

Pessoalmente nunca me filiei partidáriamente.
Por isso não me sinto com autoridade moral para tomar a atitude de não votar! A escolha é a possível.

5 comentários:

Miguel Carvalho disse...

é o bota-abaixismo versão activista

Eurico Moura disse...

Escolher pressupõe diferença.
Faz-me lembrar aquela piada do miúdo (o menino Carlinhos) a quem perguntam se gosta mais do pai ou da mãe, ao que ele responde: gosto mais de bife!
Experimenta filiares-te num partido e tentar muda-lo por dentro e verás do que se trata. E a culpa não é dos arrivistas que por lá habitam e que não sabem fazer mais nada, mas sim da classe intelectual que os desertou e que se refugia no único acto de cidadania que não os compromete: o voto secreto.
Um abraço

oscar carvalho disse...

1 - Perguntar ao Carlinho se gosta mais do pai ou da mãe é obviamente uma questão pateta. "Silly question, silly answer".
2 - Presumir que os partidos são todos iguais por que em todos há oportunistas,é simplificar a questão.
Admitindo que os oportunistas estejam distribuídos igualmente por todos os partidos, eles são diferentes nas suas propostas.
3 - Mudar os partidos por dentro é dificil? Talvez!..Mas "por fora" é impossível...

Eurico Moura disse...

Se fores uma personalidade de grande estatura intelectual, académica ou mediática, com perfil de liderança, podes mudar um partido por dentro, se te dispuseres a isso. O problema é que essas pessoas andam a tratar da vida delas e defendem que o único dever é votar.
Quanto ao cidadão comum só tem uma forma de tentar mudar os partidos: não votar neles. Basta ver como todas as forças políticas olham, com horror, a subida da abstenção.
Claro que em todos os partidos há bem intencionados, honestos e trabalhadores e é nesses que se apoia o poder dos líderes. Também a massa abstencionista é heterogénea, mas a minha declaração de (não)voto aqui fica bem como em todos os fórum em que escrevo, enquanto tiver liberdade para tal. Mais dia menos dia, com o aumento da abstenção, o voto será obrigatório e será um qualquer Jardim a pedir a respectiva alteração constitucional.

Anónimo disse...

Eu , que votei sempre também já desisti. Só nas autárquicas e se puder fazê-lo na minha terra, onde sei exactamente o que escolho. De resto desisti e nem suporto vêr campanhas eleitorais onde só vejo mentiras. Estas autárquicas tive a prova dos nove : alguém que mudara de cidade, mas para bem perto da que estivera 12 anos, prometia tudo....esquecera-se do que deixava para trás. E as pessoas o tal bom povo português não se interroga! ACEITA, ACEITA E ACEITA!