segunda-feira, outubro 18, 2004

Sobre os reality shows,
" ...o sucesso do fenómeno deve ser atribuído, por um lado à crise do espectáculo de variedades tradicionais, polido e artificial, e, por outro,a novas aspirações consumistas, mais emocionais e participativas. Tornámo-nos renitentes às lições de moral peremptória, mas apreciadores de generosidade, de aventuras corajosas e outros «happy-ends». E isso, porque esse real é mais cativante, mais espectacular, porque em nenhum outro lugar o arrebatamento, a autenticidade, o impacto são tão grandes. Vitórias do consumo individualista emocional, muito mais que revitalização das virtudes. Os reality shows ilustram a indiferença dos grandes projectos políticos e o voltar das atenções para a acção individual, mas, sobretudo a diversificação da produção e do consumo televisivos: já não somos espectadores de ficções mas espectadores de actos fraternos reais, de triunfos do homem comum, de dramas quotidianos. Triunfo do supershow táctil e trémulo: na era do pós dever, a própria moral é «reconstituída» e encenada, os valores superiores reactivam o bem-estar individual. É tempo de lágrimas nos olhos, de dramatização da vida, de impulsos espontâneos e livres do coração: já não estamos perante o dever-fazer imperioso, mas perante a teatralidade do Bem; a emoção hiper-realista do público catódico sucedeu ao idealismo da obrigação categórica"

(Gilles Lipovetsky)

Sem comentários: