quinta-feira, novembro 25, 2004

25 de Novembro - muito ainda por esclarecer Posted by Hello


Considero que a história do 25 de Novembro de 1975 ainda não foi completamente contada.
Não vos maçarei a descrever a história do "verão quente", e que enquadra o que se passou em Novembro; apenas vou contar aqui, aquilo que presenciei nessa altura.

Uma semana antes, numa reunião entre aOtelo e alguns oficiais revolucionários, estes procuraram convencê-lo que deveria aproveitar o fim de semana para tomar o poder. Otelo recusou-se, sob pretexto que isso seria o desencadear de uma guerra civil.

Na manhã de 24 de Novembro, quando me dirigia para o quartel, ouvi na rádio que os Paraquedistas tinham tomado a base de Tancos. Achei estranhíssimo: como era possível tamanho disparate? Como era possível um acto desenquadrado?
Durante o dia, soubemos que os "comandos" comandados por Jaime Neves, estavam a tomar conta da Polícia Militar.
Nessa noite fiquei por acaso de Oficial de Prevenção. Na portaria do quartel, fui assediado por vários populares ligados ao PC que pretendiam pegar me armas. Os argumentos eram os seguintes:
1 - "Isto é a contra-revolução fascista, temos que defender a democracia"
2 - "Vocês são uns "maçaricos", nós estivemos na guerra colonial, deixem que nós tomamos conta da situação"
3 -"O nosso partido não nos diz nada, anda perdido e o melhor é sermos nós a tomar a iniciativa"
Devo dizer que não foi tarefa fácil convencê-los a irem para casa.
No dia 25, estava claro que a direita militar estava a tomar conta da situação. O comandante da Escola informou-nos que nos mantinhamos na dependência directa do Presidente Costa Gomes. Acho que ele também não sabia muita coisa.
Fui destacado com um pelotão e uma metralhadora para o terraço do edifício principal. Para vir tomar conta do RALIS, pela estrada de Sacavém apareceu a coluna de carros blindados de Santarém comandada por Salgueiro Maia. Foram momentos de tensão extrema. Não sabiamos como iriam proceder para connosco- atacar-nos como os comandos fizeram com a Polícia militar? Desprezar-nos? Acabaram por passar por nós como se não existíssemos.

Ainda bem que as coisas acabaram como acabaram. Mas nunca me irão convencer que foi a "esquerda militar" que quiz tomar o poder em 25 de Novembro.

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