sexta-feira, dezembro 03, 2004

«Saber ler a realidade»: Esta competência interessa a alguém?

Basta ouvir os foruns da TSF ou da SIC para nos aprecebermos que a maioria dos portugueses tem da realidade uma visão deformada, as suas crenças influenciam completamente a sua leitura dos fenómenos políticos.
A realidade política é lida como quem lê o futebol: se eu sou do Porto, o árbitro marcou o penalti que não existiu, se sou do Benfica o penalti foi muito bem marcado e faltaram marcar mais duzentos e cinquenta.

Mas, os partidos políticos são os primeiros interessados em desenvolver esta estranha (mas conveniente) capacidade nos eleitores. Basta ouvir os comentários de muitos deles para perceber que a sua intenção é precisamente deformar a realidade e não esclarecê-la.
Exemplo: Guterres diz que abandona o governo para evitar que a situação política entrasse num pântano. A leitura oficial do PSD é: Guterres abandonou o governo porque meteu o país num pântano.

Este comportamento não é exclusivo de nenhum partido. O interesse é óbvio: pretende que a clientela eleitoral leia a realidade de forma simplista, tomando o todo pela parte.

O efeito perverso disto é o desencanto de quem quer manter uma saudável atitude crítica com todos os políticos.




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